...Os dois se parecem muito, se fossem parentes não pareceriam tanto. E fica ali a matutar...
APRÍGIO era um coroa simpático, conversador, morava em CUSTIPIU e tinha um sítio (ou rocinha, como ele carinhosamente gostava de chamar) localizado a seis quilômetros da cidade, local que ele usava para recuperar as energias gastas durante a semana. Tinha bom relacionamento com todos que conviviam ao seu redor, porém, com um defeito muito sério: um tremendo ciúme da filha LAURA, pois era a única menina dos seus seis filhos. Casado com ALDA, mãe dos seus filhos, e que lhe dera essa única filha - sua maior paixão. Como todo filho, LAURA crescera e transformara-se numa moça bonita, recatada, criada com bons princípios e que tinha pelo pai uma grande admiração, tendo-o como um grande exemplo de vida, seu verdadeiro ídolo, coisas que só filhos podem sentir pelos pais. A menina crescera e casara. Imaginem, pois, a marcação que o pobre do genro sofria.
BABAU era um cara folgado, gozador e que não perdia oportunidade de mexer com alguém. Gostava muito do sogro, porém não achava espaço para quebrar a formalidade com que era tratado. Não que houvesse um mal relacionamento entre eles, apenas sentia que APRÍGIO o mantinha a certa distância, não era de brincadeiras nem tolerava muita intimidade entre eles - fato que já perdurava por oito anos. Não havia jeito para o genro ser íntimo do sogro, que era um homem muito bem-conceituado, um exemplo de cidadão, de marido e de pai, sendo considerado por todos um exemplo a ser seguido. Aliás, diga-se de passagem, depois que ROQUE, o primogênito de BABAU nascera e, sendo o primeiro neto homem de APRÍGIO, a família passara a frequentar a casa do avô mais a miúde, o que fez com que o velho ficasse mais risonho, bem-humorado, principalmente quando diziam que o neto era a cara dele.
Mês passado, BABAU e família foram passar o fim de semana com o sogro a fim de comemorarem seu aniversário. No sábado pela manhã, BABAU estava na roça procurando o que fazer, porque sua esposa e a sogra estavam às voltas com a preparação dos festejos, enquanto o sogro cuidava dos afazeres da fazenda. BABAU chamou o pequeno ROQUE e juntos vão para CUSTIPIU. Após andarem um pouco pelas ruas da cidade, resolveu passar na Lanchonete Shangai, para tomar uma cerveja geladíssima e o filho beber um dos famosos refrescos locais.
LECO, o famoso garçom da lanchonete, aproxima-se a fim de atender aos novos clientes que chegam e percebe que o pai da criança o olha atentamente. Ao chegar mais perto, o garçom pergunta:
- Em que posso servi-los?
- Traga-me aquela “loura” geladíssima de que vocês tanto se gabam de que só aqui tem.
- Tenha certeza de que você não será decepcionado, meu doutor. E para o rapazinho, que tal um dos nossos deliciosos refrescos?
- Sim! Claro! Traga-me um copo para ele.
Enquanto o garçom se afasta, BABAU olha para o filho, volta a olhar para o garçom e fica impressionado com a semelhança entre eles. Os dois se parecem muito, se fossem parentes não pareceriam tanto. E fica ali a matutar. O garçom volta trazendo a cerveja geladíssima. BABAU puxa conversa com ele:
- Você é filho da terrinha?
- Nascido e criado.
- Então você conhece tudo por aqui, não é?
- Moço, aqui eu conheço tudo e todos, pois minha vida sempre foi nesta cidade. - Você conhece a fazenda Nova Rosa?
- Do veio APRÍGIO? E quem não conhece? Pois saiba que minha mãe trabalhou naquela fazenda por muito tempo. E, de repente, BABAU teve um leve pressentimento...
- Verdade? E como é o nome dela? Ela ainda é viva?
- Vivíssima e se chama FILOMENA, porém todos a chamam de FILÓ.
- Hummm! Sei.
Meia hora depois, BABAU acaba de beber sua cerveja, paga a conta e chama ROQUE, seu filho. Porém, antes de sair, faz questão de registrar a presença de seu filho naquele lugar, na mais famosa lanchonete da região, onde foi atendido pelo melhor garçom. Assim, pega o celular e tira algumas fotos de ROQUE com o LECO - 'o Rei dos Garçons'.
Logo chegam em casa, onde todos já os esperavam para começarem os festejos. Discretamente, BABAU chega próximo ao sogro e começam a conversar:
- Sogro, hoje eu conheci um garçom que é muito parecido com seu neto. - Verdade? Deve ser coincidência.
- Talvez. Ele se chama LECO, filho de FILÓ. Ele falou que a mãe dele morou aqui por muito tempo.
- Foi? Lembro dela não. Vamos tomar uma pinga? A festa já vai começar.
A festa foi maravilhosa. APRÍGIO, que não era de beber, fez a maior farra e, na hora do brinde, pegou a taça e gritou:
- Viva a Vida. Viva BABAU, o melhor genro do mundo.
E, daquele dia em diante, a amizade entre o sogro e o genro se tornou a coisa mais linda do mundo...